Na esquina da arquitetura monumental com a biodiversidade pantaneira, nasceu um gigante. Inaugurado em março de 2022, o BioParque Pantanal, localizado em Campo Grande (MS), não é apenas um aquário — é um verdadeiro símbolo de requalificação urbana, um espaço de educação ambiental e, para quem aprecia a arquitetura, uma obra que merece ser observada com cuidado, detalhe e espanto.
Um projeto ousado que desafiou o tempo
O edifício foi originalmente projetado pelo renomado arquiteto Ruy Ohtake, conhecido por obras com curvas marcantes e uma estética futurista que mescla brutalismo com leveza tropical. O aquário, no entanto, levou mais tempo que o previsto para sair do papel. A obra começou em 2011, com prazo inicial de 900 dias, mas só foi entregue onze anos depois — um trajeto atribulado que levantou polêmicas, mas também expectativas. O resultado, felizmente, superou muitas delas. Com 19 mil metros quadrados de área construída, o BioParque abriga o maior aquário de água doce do mundo, com mais de 5 milhões de litros de água e cerca de 350 espécies de peixes, répteis e outros animais aquáticos de diferentes biomas.
Comparando com os gigantes do país
O Brasil já conta com aquários icônicos, cada um com suas características. Em São Paulo, o Aquário de SP foi inaugurado em 2006 e ficou conhecido por ser o primeiro aquário temático do Brasil, com alas ambientadas que vão desde o cerrado até a Antártida. Já o AquaRio, no Rio de Janeiro, se destaca como o maior aquário marinho da América do Sul, com 26 mil metros quadrados e 5 milhões de litros de água salgada — uma impressionante estrutura urbana erguida na revitalização da Zona Portuária. E em Belo Horizonte, o Aquário da Fundação Zoo-Botânica se destaca como pioneiro entre os aquários públicos de água doce do país.
O que diferencia o BioParque Pantanal, no entanto, vai além do tamanho: é o único com foco específico nos ecossistemas de água doce, um ambiente frequentemente negligenciado em projetos desse tipo. Isso o coloca numa posição única tanto do ponto de vista científico quanto turístico.
Turismo, identidade e educação
Desde sua inauguração, o BioParque se tornou um dos principais atrativos turísticos de Mato Grosso do Sul. É comum ver filas de visitantes nos fins de semana, com entrada gratuita mediante agendamento. Além disso, o espaço tem sido palco de atividades escolares, exposições e eventos culturais.
Do ponto de vista urbano, ele cumpre um papel de integração: sua localização estratégica na Avenida Afonso Pena — um dos principais eixos da cidade — o coloca como elo entre o centro urbano, o lazer público e a paisagem natural que caracteriza Campo Grande.
Uma nova era para a arquitetura institucional
Para arquitetos, urbanistas e entusiastas da arquitetura contemporânea brasileira, o BioParque Pantanal representa uma virada. Ele atualiza o conceito de “obra pública”, indo além do funcional e assumindo um papel simbólico: o de criar experiências imersivas, educativas e emocionais dentro de uma estrutura que dialoga com a paisagem e promove orgulho regional.
Mais que um aquário, o BioParque é uma aula viva de arquitetura, ciência e cultura pantaneira.
Quem foi Ruy Ohtake?
Foto:
Henrique Boney
Ruy Ohtake (1938–2021) foi um dos arquitetos mais reconhecidos do Brasil, conhecido por seu estilo marcante, com formas curvas, cores vibrantes e soluções ousadas que desafiam os padrões convencionais da arquitetura. Filho da artista plástica Tomie Ohtake, Ruy deixou um legado que mistura arte, função e identidade brasileira.
Entre suas obras mais conhecidas estão o Hotel Unique e o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Ao longo da carreira, assinou projetos residenciais, institucionais e urbanos em várias partes do país, sempre com uma assinatura visual inconfundível.
No projeto do BioParque Pantanal, Ohtake trouxe sua visão escultórica e fluida, contribuindo para transformar o aquário em um ícone arquitetônico e turístico de Mato Grosso do Sul.